segunda-feira, 13 de junho de 2011

As palavras que você dirigia a mim eram sempre as mais amenas e belas. Com todo o resto, contudo, você conseguia ser terrivelmente amargo. Conheci todas suas facetas.

Guardamos nossa alquimia de corpos, palavras, sons e movimentos como se disso dependesse a manutenção da vida.

Cada sofrimento sublimava-se e todos os pensamentos eram sincronizados. Fomos um só. É por isso que me dói tanto?

A parte que me falta foi arrancada pelas mãos inábeis de um cirurgião cruel e indiferente; seja ele o destino, o acaso ou algum deus.

Não passa um dia sem que sua presença me assombre mais. Por ter se entranhado tanto dentro de mim, vejo-te em todos os lugares.

Finalmente consegui mergulhar em algumas de suas palavras. Tantas histórias incompletas...Como a sua própria vida. Não é? Deixe-me ter o consolo de considerar que sua vida está incompleta, não finda.

domingo, 12 de junho de 2011

Flores e pesares

Neste momento, cedo a um impulso. Escrevo uma carta que se perderá na areia do tempo, cujo destinatário não é palpável - mas está sempre presente.

Eu havia prometido, em algum momento, parar com tantas divagações e lamentações. Ocorre que minha alma transborda, agora, e não encontro refúgio em lugar algum.

Talvez quebrar promessas seja falha de caráter. Não vejo assim. É uma questão de princípios. Os laços da vida estão frouxos em mim - sou fiel apenas ao que sinto: única maneira de sobreviver.

Construímos nossa mitologia particular entre paredes e palavras.

É um mundo esfacelado agora. E todos estes sentimentos que carrego, subitamente, parecem inadequados.

Eu costumava ter um medo terrível de uma punição pela nossa felicidade. Estava certa? Será que foi algum castigo dos céus? Mártires dançam em minha direção, com suas espirais macabras de dor e sangue; rostos contorcidos e nenhuma santidade.

O sofrimento é supervalorizado. Mas o que faço, senão continuar o ciclo que critico?

Sentirei sua falta intensamente, em todos os dias da minha vida. Esta tornou-se minha verdade. Não há nada poético nisso.

Nada prepara para o momento da partida. Nem as expectativas mudas de melhora, ou os vislumbres conformistas de um fim.

Nosso quarto agora é apertado, cheira a uma doença invisível e a um desespero mudo. Minhas palavras de nada servem; sequer me consolam.

Foi ilusão imaginar que o tempo daria conta de todas as feridas. Depois de tantos anos, cheguei a pensar que havia superado. Foi questão de tempo descobrir que estava errada.

A mesma reação a longo dos anos. A mesma desesperança. Tardia, é fato, mas isto não fez com que tudo fosse mais ameno... Foi o oposto. Ainda somos marionetes de um destino cruel.

Protelo a leitura do livro que você jamais terminou de ler. Nestes momentos, naquelas linhas, você se torna infinito: meu pequeno deus de mundos imaginários, que tudo é e em tudo está.

Quanto às suas palavras, guardo-as ainda, temendo que se esgotem. Deposito flores sobre seus restos, temendo que também minha memória se desgaste e eu finalmente me esqueça por completo de sua existência.

Sei que é impossível, mas aterroriza-me. Por vezes, cruzo com pessoas que dizem querer se lembrar de algum fato. Quase lhes digo que a memória é uma maldição. Mesmo assim, seguirei guardando-te junto a mim, com suas palavras-bálsamo e seu carinho. Você está imortalizado no amor que depositamos um no outro.

Tenha paciência: talvez eu siga minha vida com seu curso natural. Entretanto, por enquanto preciso apegar-me a tudo que me restou de ti. Só assim poderei me recordar, sem o pesar do inevitável.